Luciano Camargo grava seu 1º DVD gospel, fala da fé e dos amigos que se afastaram
Publicado em 04/11/2024 | 68 Impressões | Escrito por Renato Abreu
Até 11 de junho de 2020, Luciano Camargo não poderia dizer que era um homem de fé absoluta. Apesar de frequentar uma igreja evangélica com a mulher Flávia Fonseca, e as filhas gêmeas Isabella e Helena, ler a Bíblia diariamente, ele ainda não havia sentido que tinha, de fato, no linguajar crente, aceitado Jesus como seu salvador. Foi na sala de casa, sozinho, em plena pandemia da Covid-19, que sentiu o chamado.
“Foi algo que nunca senti na vida, uma emoção inexplicável, que nem no nascimento das minhas filhas, eu tive. A Fau (como ele chama a mulher) tinha saído com as meninas para ir à casa dos pais dela. Fiquei sozinho e telefonei para o meu pastor, e fui completamente arrebatado pelo amor do Senhor. Eu caí no choro, mas era um choro de alegria, de uma sensação de paz completa, que não tem lógica nem explicação. E foi assim que me converti. Hoje, posso dizer que foi nesta data que renasci”, conta.
O resultado desse caminho de fé, que começou ainda nas orações dedicadas ao filho pela mãe Helena, vai ser visto em forma de música com a gravação de seu primeiro DVD gospel, “Unios pela Fé”, no Qualistage, Rio de Janeiro, em 13 de novembro.
“Escolhi o Rio porque foi lá que eu e Zezé (Di Camargo, com quem faz dupla até hoje) gravamos nosso primeiro DVD. Então, é um lugar que me remete ao início, ao carinho do público, a uma bela lembrança. E será no palco da mesma casa que vou mostrar esse novo trabalho. Não considero um recomeço, não. Porque minha carreira com meu irmão continua. Mas outro começo da história, é mais uma página particular do livro da minha vida”, justifica.
Neste livro há muitos capítulos a serem escritos, mas até aqui, Luciano teve uma trajetória de altos e baixos, inclusive com a religião.
“Eu não acreditava que existia um Deus. Pensava naquilo, de haver uma força superior que tinha criado tudo isso aqui, mas não levava fé. Só que minha mãe sempre foi extremamente religiosa, de uma fé inabalável. E toda vez que eu tinha algo importante, uma viagem, um show, eu dizia pra ela: ‘Mãe, ora aí por mim’. Ou seja, eu não acreditava, mas acreditava no poder de fé dela”, explica.
O primeiro contato com a crença veio quando irmão, Wellington Camargo, foi sequestrado, em dezembro de 1998:
“Aquilo foi algo que mexeu demais com a gente, com a minha família. Eu via minha mãe orando de joelhos, durante meia, uma hora, sem reclamar de dor, e o quanto ela acreditava que ele voltaria para casa com vida, porque Deus não permitiria que nada de mal acontecesse com ele. E ele voltou. Ali começou a mudar meu olhar sobre Jesus”.
É dona Helena a maior referência de abnegação e entrega que Luciano conhece. Mesmo quando ele achava graça das “profecias” dela em sua vida.
“Minha mãe sempre dizia que estava orando para eu encontrar uma mulher de Deus, que frequentasse a igreja, que mudasse a minha vida. Eu ouvia, mas achava que era coisa dela. Não retrucava nem nada. Um dia, ela descreveu essa mulher. Passou um tempo e eu conheci a Fau. A gente ainda não tinha assumido o namoro, mas levei ela até Goiânia. Minha mãe me chamou num canto e falou: “Sei que você está namorando. Ela é a mulher que pedi a Deus pra você. Você vai casar com ela’. Continuei saindo com a Fau, e eu achava estranho que ela nunca aceitava meus convites para sair aos domingos. Aí, um dia perguntei, né. E ela disse que não podia porque era o dia em que ia para igreja. E entendi tudo”, relembra.
São 21 anos juntos. Duas décadas em que todo mês, Luciano presenteia Flávia com uma orquídea. Algo que começou nos tempos de namoro, após um toque sutil da sogra.
“Eu dava sempre presentes para a Fau. Coisas que comprava, coisas caras. Aí um dia a mãe dela me disse: ‘você sempre dá presente, mas nunca deu uma flor para ela’. E aquilo ficou ali me martelando. Aí a partir disso, eu passei a dar a ela, todo dia 16 de cada mês do ano, uma flor. Uma orquídea, que até aprendi a plantar, e também abri uma conta na floricultura e pago anualmente para ela enviar na data. E não é permuta, não, eu pago, viu?!”, diverte-se.
A ideia surgiu quando Luciano assistiu à novela “A viagem”, de temática espírita. O personagem de Antonio Fagundes dava flores para Dinah, papel de Christiane Torloni, mensalmente. Mesmo após sua morte, pois ele já havia encomendado o serviço: “Eu adorava aquela novela e me inspirou nesse caso”.
Apesar de estar inserido no universo gospel, Luciano não deixou de ser noveleiro. Ainda que hoje tenha menos tempo.
“Confesso que atualmente eu não consigo assistir como antes. Aliás, desde o nascimento das meninas que não. Mas sempre tentei acompanhar as que passas às 18h, que são tramas mais leves, que gosto mais. As bíblicas assisti a todas”, conta.
Nem as novelas, nem as músicas do tipo secular (as que não são louvores) estão proibidas na nova vida de Luciano. Tanto que trata logo de dizer que a dupla com o irmão não vai acabar.
“Basta ser dupla para dizerem que vai acabar. Já disseram muito isso da gente. Mas não vai. Sigo na nossa carreira. Deus me deu um dom. Canto e propago o amor através da música”, observa.
Se a carreira e a TV continuam na rotina do cantor, o mesmo não aconteceu com muitos amigos, que acabaram se afastando depois de sua conversão.
“É inegável e faz parte, eu acho que é algo natural. Eu percebi que alguns foram embora, pois talvez pensem, ‘ih, lá vem o crentinho falar de Jesus’. Mas eu ganhei tantos outros. Hoje vejo meus companheiros de igreja como meus irmãos de fé. A gente nunca perde estando com Jesus”, minimiza.
Luciano criou uma rotina em que não há espaço para se preocupar com o que vão pensar dele. Se é visto como chato, crentinho, fanático. Nada disso importa. Às 6h já está de pé preparando o café das gêmeas, prestes a fazer 15 anos. Quando consegue, as leva na escola e lê com as duas alguns trechos da Bíblia, antes de começar o dia. Faz questão de continuar estudando o evangelho e frequentando os cultos quando não há agenda de shows.
Num deles, mais recentemente, uma pregação tocou fundo em seu coração. O pastor falava da importância do perdão, e Luciano, mais uma vez, foi arrebatado pelo tal amor que diz não ter parâmetro.
“Eu me toquei de que nunca havia, de fato, perdoado as pessoas que um dia me fizeram mal. E precisava dar esse perdão às pessoas, sem necessariamente conviver com elas. Me lembrei até de um garoto que brigou comigo na rua, uma vez. Eu nem sei se ele está vivo, mas senti vontade de perdoá-lo”, diz ele, que também fez este movimento interno com membros da família, como o filho Wesley Camargo, de 35 anos.
Os dois não se falam há uma década e Luciano está proibido de citá-lo por conta de um processo que corre em segredo de Justiça. Em 2014, o filho de Luciano foi detido na Delegacia da Mulher de Goiânia, acusado de agredir a prima e a tia em uma discussão. Após pagamento de fiança no valor de R$ 10 mil, feito pelo pai, ele foi solto. Desde então, os dois não tiveram mais contato.
“Hoje eu sei que eu posso amar essas pessoas, mesmo não tendo relações com elas. Pratiquei e liberei o perdão que Deus liberou em mim, que isso foi um milagre pedido. Veio dois anos após minha conversão. Foram dois anos dobrando os joelhos, e eu consegui perdoar. Esse é o amor de Cristo”.
Aos 51 anos, pai e avô, Luciano credita também ao seu estreito relacionamento com Deus a boa fase que veio na maturidade e não faz planos a longo prazo sem pedir a orientação d’Ele para dar os próximos passos. Sabe que seus testemunhos, seja na igreja, nos palcos, nas rodas de conversa, é uma missão. Cada vez mais latente e potente:
“Aprendi que quando meus joelhos estão dobrados, eu estou de pé. Deus colocou a paz na minha vida. Eu era um homem de família. Agora, sobretudo, sou um homem de fé”.
Fonte: EXTRA