Paes sanciona incentivos e lança nova Bolsa de Valores no Rio


Publicado em 04/07/2024 | 126 Impressões | Escrito por Renato Abreu


Paes sanciona incentivos e lança nova Bolsa de Valores no Rio

Prefeito sanciona lei que cria incentivos para a instalação na cidade. CEO da Americas Trade Group prevê estreia no ano que vem, mas projeto ainda depende de aprovação da CVM e do Banco Central. 

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, sancionou nesta quarta-feira a lei aprovada pela Câmara de Vereadores que cria incentivos para a instalação de uma nova Bolsa de Valores na cidade. Em cerimônia realizada na Associação Comercial do Rio de Janeiro, Cláudio Pracownik, CEO do Americas Trade Group (ATG), plataforma que vai tocar o projeto, disse que prevê iniciar as operações até o segundo semestre de 2025. 

O projeto da ATG é um desafio à Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, que é a única Bolsa brasileira desde o fechamento da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ), em 2002, após longa agonia. 

No último dia 25, a Câmara de Vereadores do Rio aprovou uma redução do Imposto Sobre Serviços (ISS) para empresas que desejem desenvolver atividades de Bolsa de Valores na cidade. A alíquota, que era de 5%, passará a ser de 2%. 

A ATG é uma empresa de tecnologia para negociação de ativos financeiros, que já atua no Brasil, em outros países da América Latina e nos EUA. Desde o ano passado, o Mubadala, que gere investimentos do fundo soberano do Emirados Árabes Unidos, detém o controle da ATG. 

— Vamos operar diversos produtos, mas a implementação será em fases. Primeiro, negociaremos ações, cotas de fundos e aluguel de ações. Em seguida, câmbio, mercado de derivativos e todos os players de futuros que a B3 também tem — afirmou o CEO da ATG, Cláudio Pracownik. 

Faltam aval da CVM e do BC 

As operações ainda precisam de aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, que regula as negociações com ativos financeiros no Brasil) e do Banco Central. Mas, segundo Pracowinik, a previsão é começar a operar até o fim do ano que vem. 

Ele afirmou que espera estar pronto tecnologicamente ainda em 2024, e que o período de testes começa logo em seguida, ao longo de seis meses em stand by. 

Segundo o executivo, o registro pelo Banco Central da clearing, empresa de liquidações e operações necessária para o funcionamento de uma Bolsa, está em andamento, assim como o processo de aprovação da própria Bolsa na CVM, onde será feito o “casamento de ordens”, explicou. 

Ele também afirmou que a injeção de capital do Mubadala na ATG foi decisiva para a constituição da clearing. 

— Ter uma empresa de compensação de operações precisa de reservas pujantes para fazer as compensações. Nossa busca por um investidor estrangeiro veio justamente para ter um acionista de referência com credibilidade internacional e pujança financeira — disse o CEO da ATG, que não quis divulgar valores investidos pelo fundo árabe. — Foi um investimento grande. 

No mercado financeiro desde os anos 1990, Pracowinik chefiou, de 2004 a 2009, a corretora Ágora, e foi também CEO da rival Genial por quase três anos, entre 2017 e 2020. Ele afirmou que já tem conversas com empresas interessadas em listar suas ações na nova Bolsa do Rio, ainda que se mantenha simultaneamente na B3. 

Indefinição sobre o local 

Ainda não está definido onde, na cidade, será localizada a nova Bolsa. Pracownik afirmou que procura um imóvel entre o Centro e a Zona Sul. Ele disse que a proximidade do Aeroporto Santos Dumont é um fator importante e que também “precisa ter uma vista para a cidade”. 

Sobre o nome da futura Bolsa, ele disse que não haverá “Rio” no título, e que o Mubadala, acionista de referência da ATG, opinou sobre o batismo, mas não quis revelar: 

— O nome vocês conhecerão em breve, mas a Bolsa, apesar de estar no Rio, é do Brasil. 

Antiga Bolsa do Rio foi palco de privatizações e escândalos 

Com um icônico edifício na Praça XV, no Centro, a antiga Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) remontava do século XIX, mas viveu uma longa agonia até ser fechada em 2002 na esteira de escândalos financeiros. 

Em 1989, uma crise especulativa que tinha como principal personagem o investidor Naji Nahas quebrou o balcão carioca e quase colapsou uma série de corretoras. Depois desse escândalo, os pregões da Bolsa do Rio nunca mais foram os mesmos. A perda de credibilidade provocou um esvaziamento da Bolsa, com a migração de empresas para a então Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). 

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Na década de 1990, a BVRJ foi o cenário de vários leilões de privatização, como os da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a mineradora Vale do Rio Doce, com direito a embates entre manifestantes e policiais na porta do prédio da Praça XV. Em 2002, já sem pregões, a Bolsa do Rio foi incorporada pela de São Paulo, que também absorveria a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), formando a B3. 

Paes provoca paulistanos nas redes 

Em pré-campanha à reeleição, Paes comemorou a chegada de uma nova Bolsa no Rio que, segundo ele, vai acabar com o que chamou de “cartelzinho”: 

— Não é possível a turma do livre mercado gostar de um ‘cartelzinho’. A B3 significa no Brasil uma reserva de mercado. Então essa coisa de liberdade econômica chega até a página dois. Estamos criando aqui concorrência com redução de custos — afirmou. 

O prefeito brincou, dizendo que batizou para si a lei de “Bernardo Paes”, em referência ao seu filho, Bernardo, que hoje estuda economia numa faculdade no exterior, na esperança que ele possa, no futuro, trabalhar no Rio: 

— Ele está fazendo faculdade no exterior, de Finanças e Economia, e o modelo que ele quer seguir é de banqueiro em São Paulo. Falei “ai meu Deus do céu, quando se formar vai morar em São Paulo. Que desonra!” 

Nas redes sociais, o prefeito investiu na rivalidade entre Rio e São Paulo e brincou que “virou farialimer” – em referência à avenida paulistana que se tornou o coração do mercado financeiro no país. Ao simular a operação num terminal, disse que “por aqui, o beach tennis é na praia de verdade”. 

Segundo o prefeito, as empresas do mercado financeiro, como corretoras e gestoras de recursos, geraram arrecadação de R$ 1,5 bilhão nos últimos três anos em ISS (tributo municipal), o que mostra o dinamismo do setor no Rio. 

Fonte: O Globo 

 

 

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